À minha frente, no andaime, está um rapaz dos seus 16 ou 17 anos. Pelo modo como coloca o cimento na talocha, pela forma como escarra para o chão, enquanto alivia a cueca que teima em apertar-lhe a genitália e pela maneira como descai ligeiramente a calça para se notar o rêgo, percebo que é gay.
Estamos nas obras da fachada da casa das bifanas da Volta da Pedra. Trabalho ali, mas podia trabalhar numa obra qualquer no Chiado. Aliás, era o meu sonho. Estar no Chiado, dentro de um elevador, sem luz, a fazer uns "trabalhinhos". Mas por comodidade tou aqui a fazer uns biscates niilistas. Sim, niilistas porque na realidade não fiz nada ainda. Vou simplesmente ficar a olhar para o rêgo do rapaz dos seus 16 ou 17 anos...
Em todas as grandes localidades do mundo e arredores, há locais preferidos pelas comunidades gay. Não sei muito bem as razões que as definem, mas os guias turísticos referem-nas e a Volta da Pedra é o que está a dar, e de facto, todos os dias cruzo-me com "casalinhos" de capacete e de marmita na mão. Não têm vergonha de mostrar o que são. Principalmente, quando seguram o martelo pneumático. Eu topo-os logo. Conheço-os de ginjeira. A maioria frequenta o mesmo bar que eu...
Dantes não era nada assim. Há duas gerações atrás, era impensável existir uma flozinha na obra. Ai de quem falasse "à-Cláudio-Ramos" ou de quem não bebesse 3 minis de penalty...o encarregado da obra topava logo a maricagem e pumba. Ficava logo sem direito a almoçar dobrada com a malta e a foto de "gajo das obras do mês" era imediatamente retirada da porta do pré-fabricado.
Mas agora...agora, é tudo do à "lagardère" ! É só vê-los a passear no estaleiro da obra, assumindo-se como trabalhadores requintados. A culpa disto tudo está nas figuras públicas, que resolveram todas sair da toca, como foi o caso daquele arquitecto ou jornalista ou lá o que é. E por falar em figuras públicas, até já o empreiteiro começa a têr uns tiques muita estranhos...
Mas, ao olhar para o rêgo...quer dizer, para o rapaz dos seus 16 ou 17 anos que está no andaime, pensei : será que há 20 anos teria a mesma forma de agir ? Será que assumiria tão ostensivamente a sua inclinação de sensível, mas com máscara de besta quadrada ? E mais longe...se ele fosse da mesma idade que tem hoje, seria estudante de Arquitectura ?
Nahhh...tive dúvidas. Ao observar-lhe atentamente os biceps...quer dizer, o jeito do rapazito, assumindo de forma tão clara o seu "gayismo", percebo que é apenas revolta. Sim, porque pela forma como repete asneiras e arrota ao mesmo tempo...é de uma homossexualidade sem precedentes!
E pronto...é isto. Hoje expõem-se a homossexualidade como forma de afirmação, de diferença e de revolta. Percebe-se tudo isto, olhando para aquela linda criatura de capacete e tronco nú...a suar em bica e a cheirar a cavalo. Que coisinha boa.... Ui, tou a ficar com calores...O quê ?!....Que foi ? Falei alto ?!...
Ass : Um arquitecto/jornalista.
PS1 - Um agradecimento especial ao Sr. arquitecto e jornalista do Sol pela inspiração neste post. Espero que o humor contido nas palavras deste e doutros blogs, o ajude a desafunilar-lhe preconceitos e a assumir-se de vez. Da próxima vez que vir um xaval de cabeça inclinada, lembre-se que se calhar o que ele precisa é de uma bisnaga de Voltaren para relaxamento muscular e não uma bisnaga de KY para relaxamento anal.
PS2 - A minha mulher diz que eu atraio gays. Boa...agora à pala do Sr.arquitecto/jornalista, fico sem saber o que fazer da próxima vez que fôr ao Chiado para fazer uma tatuagem ou para comprar uns CD's ou bilhetes para concertos. Para começar, irei tentar evitar todos os elevadores que encontrar. Depois tenho o problema da postura. Se for demasiado descontraído e tiver o azar de colocar o pescoço mais pó lado, tenho um cota em cima de mim a convidar-me para ir para o tal elevador. Se for muito direitinho, tenho bué gajos niilistas a fazerem-me olhinhos e a convidarem-me para uma sauna turca...
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